25 DE ABRIL SEMPRE! FAZ ISTO NUNCA MAIS

Cada vez que se fala do 25 de Abril, o meu neto, do alto dos seus 4 anos, replica “25 de Abril Sempre, faz isto nunca mais”! 

“Adorei a festa da liberdade, todas as pessoas estavam felizes e a “vida Morena” é uma cantiga muito linda”. Sabes, o senhor que fez essa cantiga, o José Afonso, também compôs a tua cantiga de dormir, a “Estrela d’Alba, a “Formiga no Carreiro” e… Aos primeiros acordes o Gaspar já identifica cinco ou seis músicas do Zeca, a “Maré Alta” do Sérgio Godinho, trauteia-as e associa-as à festa da Liberdade.

A Avenida nos 50 anos da Comemoração e a história contada na escola, “Antes as pessoas não podiam dizer o que queriam. O presidente tinha na sua casa um walkie talkie e ouvia todas as conversas e tinha uns polícias, que não usavam roupas de polícias, e levavam as pessoas para a prisão. Quem?  Os bons! E as pessoas tinham medo, muito medo! E depois? Depois as pessoas saíram à rua e gritaram: Vai-te embora presidente, vai-te embora presidente! E ele fo? Não! Mas depois as pessoas que estavam presas já estavam soltas e o presidente pensou: “já não posso fazer nada aqui”, e foi-se embora. As pessoas ficaram muito contentes e fizeram a festa da liberdade. 

O que a princípio parecia um gracioso trocadilho era a sua interpretação de que o que estava errado antes do 25 de Abril não se podia repetir. Faz isso nunca mais! 

Quando, em 74, me disseram que vínhamos para Portugal, para Lisboa, fiquei horrorizada, que não queria, que as pessoas eram tristes e cinzentas, pior, lá tudo era triste cinzento e frio. Mas quando aqui cheguei encontrei um país colorido e brilhante, cheio de vida e opinião, onde tudo era e seria possível, com música, poemas, espetáculos a celebrar uma revolução, sem sangue, com os militares que a perpetraram sempre, sempre ao lado do povo!  O fim do colonialismo “Africa é dos africanos, já chegam 500 anos”. Tudo fazia sentido e o valor da liberdade era inquestionável.

A minha vida foi pautada por esse inquestionável direito e pelo seu elevado custo. Social. Profissional. Emocional. As minhas filhas que o digam…, mas na descida da Avenida em 2024 estavam lá, uma veio de França (foi das que saiu do sofá a conselho de P. Coelho, Haja Memória!) “porque 50 anos não é coisa pouca” e a outra, a mais resiliente combatente pela equidade, com o marido e o seu melómano e atento filho.

A revolução de Abril fez de Portugal um país melhor e estou convicta que as gerações mais novas são sempre melhores que as anteriores. Só temos que as estimar e contar as histórias que valem a pena contar, para que Haja Memória!

 

 


Paula Coelho

Nasceu em Luanda em 1960 – Frequentou a Faculdade Letras UL/FCSH-UNL (Psicologia/História da Arte e História). Desenvolve actividade na área de Produção, Mediação e Criação Artística. Trabalhou com A Barraca, ACERT, Trigo Limpo, O Bando, CEPiA, Descalças, Corredor, Lua Cheia, Vicenteatro, Fábrica de Sonhos-Produção de Filmes, Estás a ficar Careca Hermengarda, No Pote das Ginjas, com Maria do Céu Guerra, Hélder Costa, João Brites, Pompeu José, Vera Mantero, José Rui Martins, Tiago de Faria, Cristina Viana, João Carneiro, Rui Pisco, Fernando Santos, João Grosso e Luís de Sousa Ribeiro. Foi colaboradora do IIE- praticas artísticas na Escola com Leonor Areal, GTMEPDP/História ao Vivo com Paula Bárcia. É com Rui Zink, Gilberto Gouveia e outros, uma Feliz da Fé. Colabora com o Teatro Mira/Os Piscos desde janeiro de 2020. Colabora com a Lagarto Amarelo desde 2019. Colabora com A Corredor  / POP- Festival das Artes e Ofícios do Espectáculo. Gosta de pessoas, de ser surpreendida e de andar por aí. Não sabe, mas adora cantar.