Tem escrito canções para vários cantores, desde intérpretes do fado a praticantes da pop. Como é esse processo de escrever para outros cantarem, sabendo que cada intérprete tem um estilo, um universo de referências e um modo próprio de cantar?
Eu escrevo independentemente disso. A minha voz é autoral, vem do teclado do dispositivo onde quer que eu escreva as canções, não vem das cordas vocais. Cheguei a dizer várias vezes que escrevi em função de outras vozes, várias vezes menti, portanto.

A sua chegada à cena musical portuguesa faz-se com os Azeitonas e com uma série de hits que nunca mais nos saíram da cabeça. Como é que foi subir ao palco depois disso, já a solo?
Difícil, para mim é terrível ser o centro das atenções. Nunca o fui, nos Azeitonas, nem na vida. Para mim isso é contra-natura. Giesta, o seu último álbum, tem uma série de canções onde ecoam uma série de referências biográficas.

É fácil transportar as memórias biográficas para a música ou é mais fácil fazê-lo na escrita (arte que, aliás, também pratica)?
Eu não distingo a matéria prima, o fermento das duas formas distintas de escrita a que me tenho dedicado ultimamente. São duas formas diferentes, as canções e as prosas. Mas a massa de fermento é a mesma. Eu só falo de três ou quatro assuntos, como todos os escritores. A minha vida, a minha biografia, portanto, são esses três ou quatro assuntos.