Explica qual o conceito e a inspiração por detrás do workshop “Seguir Al Conejo Blanco”?

O workshop chama-se “Seguir Al Conejo Blanco” e nasceu da forma como vejo a criatividade: um lugar em constante movimento. Não sabemos exatamente para onde vamos, mas temos a certeza de que não podemos ficar parados – como a Alice no País das Maravilhas, que decide seguir o coelho branco mesmo sem saber o que a espera. Essa pulsão é o motor de todas as aventuras. Para mim, criar é isso mesmo: seguir esse coelho e mergulhar em lugares profundos. Tenho uma metodologia muito própria, desenvolvida ao longo de 25 anos de trabalho como encenadora, diretora criativa, dramaturga e cenógrafa. Esta oficina é uma oportunidade de partilhar essa forma de trabalhar com profissionais do teatro – uma abordagem que privilegia relações não hierárquicas, antes orgânicas, onde todas as disciplinas dialogam de forma constante no processo criativo.

 

Que disciplinas se vão trabalhar no workshop?

Haverá uma componente prática, com exercícios que costumo aplicar nas minhas criações como encenadora, e uma parte teórica, onde discutiremos a articulação entre profissões artísticas e a liderança de equipas de forma não autoritária, libertando‑nos de modelos tirânicos que historicamente marcaram o trabalho em encenação. Partimos de uma perspetiva ecofeminista, que se foca no cuidado, na escuta e na importância do pensamento crítico. Para mim, é essencial associar a ideia de projeto artístico à noção de célula, um organismo vivo onde todas as partes têm valor e estão interligadas com a natureza.

 

Quais são as tuas expectativas para o trabalho que se desenvolverá?

A ACERT é um lugar muito especial para mim. Sinto-o como uma casa. Um dos primeiros workshops que dei foi aqui, em 2004, quando vim encenar o espetáculo “Mamã Lusitânia”. Voltar passados mais de 20 anos é emocionante. Tenho muita curiosidade em perceber a diferença entre a Marta de então e a de agora, à luz da experiência que fui acumulando. Tenho mesmo muita vontade de regressar a esta casa tão querida. O Trigo Limpo teatro ACERT acompanhou o meu crescimento como artista. Foi a primeira companhia internacional a confiar em mim e a convidar-me para encenar um espetáculo. É uma família para mim. Estou profundamente grata à ACERT, que tem um papel decisivo no meu percurso artístico e pessoal. Aqui fiz amigos que trago comigo há mais de duas décadas, e que serão para a vida inteira.