A exposição de fotografias de Tiago Miranda, foto-jornalista do Expresso que visitou a Beira logo depois do Idai, nasceu sem qualquer relação com a ACERT, mas agora que chega a Tondela será também um ponto mais nesta ligação que queremos continuar.

Em outubro do ano passado, a ACERT visitou a Escola Secundária da Manga, em Moçambique. Na bagagem, dezassete computadores comprados com donativos recolhidos pelas escolas do Município de Tondela e pelo Centro Hospitalar Tondela-Viseu, um modo de contribuir para que os alunos desta escola, fortemente atingida pelo ciclone Idai, voltassem a ter aulas de informática. Na bagagem de regresso, vieram cadernos forrados pelos alunos da Beira, uma oferta para os seus colegas de Tondela, e muitas histórias e testemunhos contados na primeira pessoa. Será o início de uma ligação que ignora a distância geográfica e que há-de criar uma ponte entre Tondela e a Beira, uma ponte inexpugnável que nenhum furacão terá como arrasar.

Como se equilibra, no trabalho de um foto-jornalista, a procura e o registo da informação com aspectos de enquadramento, ângulo, estética?

Qualquer um dos três cumpre uma única função, comunicar. O enquadramento mostra o que é importante e esconde o acessório. O ângulo atribui graus de importância a elementos na imagem. A estética, a mais complexa e subtil das três, é a que mais serve para fazer o leitor, no seu subconsciente, sentir o ambiente da história que se está a contar. Tudo isto é informação.

Chegaste à Beira pouco depois da passagem da tempestade Idai. Tinhas alguma ideia do que te esperava ou a situação que encontraste superou qualquer preparação?

Sabia razoavelmente o que me esperava, no jornalismo já me cruzei algumas vezes com situações semelhantes. Não quer isto dizer que nos sintamos alguma vez preparados. Nunca é fácil abordar alguém que acabou de perder tudo. Temos um trabalho muito importante para fazer, mas nunca nos podemos esquecer que do outro lado está uma pessoa no momento mais que difícil da suas vida. É este equilibrismo entre a necessidade de informar e o respeito por alguém que se encontra numa situação frágil que é o mais difícil de gerir e o mais importante de ser gerido.

Há trabalhos que deixam marcas mais fortes, emocionalmente, em quem os faz? Este foi um deles?

Deixam sempre marcas, umas vezes apercebemo-nos delas passado uma semana, outras vezes, uns anos. Por exemplo, em 2010 cobri o aluvião na Madeira, na altura marcou-me uma coisa tão simples quanto isto, uma idosa, que no meio da destruição lavava roupa no rio que tinha acabado de levar casas e vidas. Não fotografei porque claramente a pessoa não estava psicologicamente bem. Na tragédia na Beira, fotografei uma senhora a lavar a roupa na ribeira, no meio da destruição absoluta. Na verdade, duvido que algum dia a fotografia que não fiz na Madeira me deixe em paz.