TER CRAVOS D'ABRIL NO CEARÁ Intercâmbio Cultural Brasil | Portugal FORTALEZA | CRATO | NOVA OLINDA | JUAZEIRO DO NORTE
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CRAVOS D'ABRIL NO CEARÁ
A ACERT - Associação Cultural e Recreativa de Tondela tem, desde 1993, uma relação afetuosa com o Nordeste do Brasil onde, em 1993 — já lá vão 30 anos — organizou, conjuntamente com a Gesto e o projeto Identidades do Porto e a Fundação Joaquim Nabuco, o programa de intercâmbio “Cumplicidades. Nesse período, mais de uma centena de artistas de Portugal e Brasil juntaram mar a separá-los. Fortaleza foi então um porto de atracagem e, o Theatro José de Alencar, o palco onde estreou “À Roda da Noite”, espetáculo teatral do Trigo Limpo teatro ACERT, numa adaptação de contos do escritor moçambicano, Mia Couto.
Um 2018, o reencontro aconteceu em Quixadá, na hospitaleira Casa de Saberes. O namoro prosseguiu e, em 2019, a Companhia de teatro da ACERT habita Fortaleza e Crato com “20 Dizer”, acasamentando-se com o Mestre Bule Bule. Entretanto, artistas cearenses embarcaram culturalmente para Portugal, integrando a programação dos festivais internacionais de teatro e de músicas do Mundo da ACERT.
Nesta nova travessia, unidos pelos cravos d’Abril, Ceará e Tondela prosseguem os laços solidários e de cooperação e seguem trilhos de encantamento neste programa de intercâmbio Cultural.
Dois espetáculos do Trigo Limpo teatro ACERT, oficinas de troca de saberes e, dde forma particular, a criação conjunta do concerto musical “Tanto Mar”, unem músicos cearenses e portugueses para cantar a Revolução dos Cravos que é intemporal e de muitas geografias de resistência e de luta por um mundo melhor.
Fortaleza, Crato, Nova Olinda e Juazeiro do Norte, vão ser moradas de encontros improváveis que alimentam novas utopias, predicados singulares geradores de sonhos partilhados que se alimentam de impossíveis concretizáveis.
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Ficha técnica e artística
Governo do Ceará | Secretaria da Cultura do Estado do Ceará
Elmano de Freitas - Governador do Estado do Ceará
Jade Romero - Vice Governadora do Estado do Ceará
Luisa Cela - Secretária da Cultura do Estado do Ceará
Rafael Felismino - Secretário Executivo da Cultura do Estado do Ceará
Gecíola Fonseca - Secretária Executiva de Planejamento e Gestão Interna da Cultura do Ceará
Pedro Adão e Silva - Ministro da Cultura de Portugal
Carla Borges - Presidente Município de Tondela
Instituto Dragão do Mar
Rachel Gadelha - Diretora Presidente
Adriana Victorino - Diretora Administrativo|Financeira
Lenildo Gomes - Diretor de Ação Cultural
Bete Jaguaribe - Diretora de Formação
Lucinha Rodrigues - Gestora da Vila da Música Monsenhor Ágio Augusto Moreira
Instituto Mirante de Cultura e Arte
Tiago Santana Diretor Presidente
João Wilson Damasceno - Diretor Executivo
Flávio Jucá - Diretor Administrativo Financeiro
Paula Geórgia Fernandes - Assessora Técnica de Projetos Especiais
Silas de Paula - Diretor do Museu da Imagem e do Som
Rosely Nakagawa - Diretora do Centro Cultural do Cariri
Equipa da ACERT
Design Gráfico – Daniel Nunes (Comunicação ACERT)
Agradecimentos Especiais: SESC/Fecomércio
Fundação Casa Grande
UFCA - Universidade Federal do Cariri Pró-Reitoria de Cultura UFCA
Hélder Santos
Hotel Encosta da Serra
Mercadinhos São Luiz
Bom Porto – Genuíno
CIM Viseu Dão Lafões
Seridois | Tipografia Tondelgráfica
Museu Cavaquinho
Mário Henrique – xilogravurista
Fotos: Paula Geórgia | Daniel Nunes | Júlio Pereira | Ricardo Chaves
Ilustração: André Letria
PROGRAMA
25 de Outubro | 2023 - Fortaleza
Museu da Imagem e do Som do Ceará
Aula show: Instrumentalização Sonora com objetos do Cotidiano* – 15:00h
27 de Outubro | 2023 - Fortaleza
Museu da Imagem e do Som do Ceará
Workshop de som e Luz* – 14:00h
Espetáculo CAR12 - A GRANDE VIAGEM – 16:00h
Trigo Limpo teatro ACERT (Portugal)
29 de Outubro | 2023 - Fortaleza
Museu da Imagem e do Som do Ceará
Espetáculo 20 DIZER [CEARÁ] – 16:00h
Trigo Limpo teatro ACERT (Portugal)
30 de Outubro | 2023 - Crato
Vila da Música
Aula show: Instrumentalização Sonora com objetos do Cotidiano * – 15:00h
31 de Outubro | 2023 - Nova Olinda e Crato
Fundação Casa Grande
Aula show: Instrumentalização Sonora com objetos do Cotidiano * – 11:00h
Workshop de som e Luz * – 14:00h
Espetáculo CAR12 - A GRANDE VIAGEM – 16:00h e 19:00h
Trigo Limpo teatro ACERT (Portugal)
Vila da Música
Workshop de Improvisação Vocal* - 15:00
01 de Novembro| 2023 - Juazeiro do Norte e Crato
SESC CRATO
Espetáculo 20 DIZER [CEARÁ] – 19:30h
Trigo Limpo teatro ACERT (Portugal)
02 de Novembro | 2023 - Crato
Centro Cultural do Cariri
Workshop de Som e Luz * – 9:00h
Espetáculo CAR12 - A GRANDE VIAGEM – 18:30h
Trigo Limpo teatro ACERT (Portugal)
03 de Novembro | 2023 - Juazeiro do Norte e Crato
Sesc Juazeiro do Norte
Espetáculo Tanto Mar - Intercâmbio entre Ceará e Portugal – 20:00h
Centro Cultural do Cariri
Oficina Escrita Teatral * – 15:00h
04 de Novembro | 2023 - Crato
Centro Cultural do Cariri
Espetáculo Tanto Mar - Intercâmbio entre Ceará e Portugal – 18:30h
05 de Novembro | 2023 - Crato
Centro Cultural do Cariri
Espetáculo 20 DIZER [CEARÁ] – 18:00h
Trigo Limpo teatro ACERT (Portugal)
TANTO MAR
Depois do concerto “De Mar a Mar”, criado em residência artística entre músicos cearenses e da ACERT em Tondela, estreado no Tom de Festa – Festival de Músicas do Mundo ACERT em Julho deste ano, o retorno amistoso numa geografia cearense habitada conjuntamente.
O explorar de memórias e afinidades conceptuais, poéticas e, sobretudo, o prazer de moldar cada música com novos arranjos onde a rabeca dialoga com a guitarra portuguesa, a “chula” com o “baião”, José Afonso com Chico Buarque... Enfim, as identidade a afirmarem-se e a deixarem-se contagiar por uma língua comum que é plástica e sem fronteiras nem donos.
Tanto Mar, parecendo sinônimo de lonjura, evoca efusivamente a festa com cravos dum canteiro musical que afirma mutuamente, como no poema de Chico Buarque, que há sempre uma semente em algum canto de jardim.
Tanto Mar é saudade de estar próximo. É fado tropical. É o barco, o coração que não aguenta tanta tormenta, alegria que o coração não contenta. O dia, o marco, meu coração, o porto, não. Tanto Mar é esta gratidão a Caetano Veloso por escrever em nós um sentimento que Fernando Pessoa em nós fez germinar como bussola sem ponteiro: Navegar é preciso, viver não é preciso.
Tanto mar é uma revelação de que Hoje longe, muitas léguas, ainda que Numa triste solidão se Espera a chuva cair de novo | Pra mim [nóis] voltar pro meu [nosso] sertão.
Tanto Mar é José Afonso a entoar junto a Luís Gonzaga uma mescla de “Asa Branca” com a canção/hino “Grândola Vila Morena” de um 25 de Abril sem fronteiras que une os povos de língua portuguesa “sem muros nem ameias”.
Tanto Mar é Moçambique na Guiné. É Angola na Guiné-Bissau. É Timor em Cabo Verde e São Tomé e Prícipe. É uma Tondela portuguesa a viver no Ceará brasileiro.
FICHA TÉCNICA
Percussão: Alda Maria | Guitarra Portuguesa e clássica : André Cardoso | Contrabaixo Acústico : Cláudio Mappa | Rabeca e Pífano : Evânio Soares | Declamação: José Rui Martins | Voz: Junú | Voz e Flauta: Luísa Vieira | Contrabaixo Acústico, voz e percussões: Miguel Cardoso | Produção: Paula Geórgia | Voz: Verlucia Nogueira | Violão e Guitarra Barroca: Weber dos Anjos | Som: Luís Viegas | Luz: Paulo Neto
Uma andorinha não faz Verão
“Se é verdade que apenas podemos viver uma pequena parte daquilo que há dentro de nós, o que acontece com todo o resto?” Amadeu de Almeida Prado
Tudo começou com um encontro. Esse gesto estabeleceu um mergulho que sempre teve como elo, as fronteiras e o mar. Estamos unidos por uma língua, apesar dos sotaques e significados ora similares, ora opostos. Será difícil identificar as raízes da cultura portuguesa em nosso cotidiano, ou perceber a cultura brasileira em conjunção para além do tempo das diferenças e incertezas, da migração agora inversa, até porque a arte não é falada apenas de um lugar? A ACERT e a sua Companhia de Teatro Trigo Limpo de Tondela têm protagonizado, desde há alguns anos, um papel singular nas relações de cooperação artísticas com o Ceará. Em 2018, nos encontramos em um sertão profundo, lugar sinônimo de resistência. Através de paisagens, palavras, cantorias, ritmos de sons e corpos, falamos dos currais da fome e da seca. Em 2019, nos encontramos através da poesia, do improviso poético e musical e falamos não apenas de sonhos, mas de lugares ainda desconhecidos dentro inclusive, de nós mesmos. Agora em 2023, a tônica foi de reconstrução e fortalecimento da identidade. Construímos um encontro de Mar a Mar, não sabendo exatamente se estávamos a ir ou a retornar, mas compreendendo que unidos pela língua e os sons, somos todos um, evocando um diálogo entre as culturas brasileira e lusitana, e que fala de saudade e distância, memória e esquecimento.
Cravos D’Abril no Ceará encontra as similitudes dos períodos ditatoriais dos dois países. No início das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, concebemos em conjunto um programa que procurou igualmente estabelecer-se
nos domínios da formação e dos saberes, para além das apresentações teatrais e musicais, espaços de trocas, através de aulas espetáculos, nas áreas de escrita teatral, improvisação vocal, técnica de luz e som e a construção de instrumentos musicais não convencionais.
Através das linguagens do Teatro e da Música, estabelecemos diálogo entre as culturas brasileiras e lusitanas. Com narrativas do litoral ao sertão, por meio de um mergulho do cancioneiro popular na música brasileira, com ênfase no Nordeste e as profundas raízes ibéricas em suas falas ancestrais, evocadas pelas vozes, pelos ritmos de baião, reisado, guerreiro, coco e ciranda, utilizamos instrumentos históricos como a guitarra romântica braguesa, instrumentos tradicionais como a rabeca e o pífano, na união com o contrabaixo clássico. Os instrumentos, as vozes e ao mesmo tempo, objetos do cotidiano, geram uma sonoridade da qual emergem camadas de texturas harmônicas e rítmicas em arranjos criados coletivamente. Em palco, artistas brasileiros e portugueses associam a poética dos cantadores portugueses com as melodias do nordeste brasileiro, criando um intercâmbio que fala de saudades e distâncias e o encanto dos reencontros. Queremos olhar para quem somos agora e honrar aqueles que aqui também estavam, chegaram e retornaram. Os saberes e suas trocas se transformaram em uma mescla cultural, cheia de significados e costumes.
Que seja uma festa bonita, pá!
Paula Geórgia Fernandes
Assessora Técnica
Instituto Mirante de Arte e Cultura
Quando um Cavaquinho se enamorou por uma Viola
Um Cavaquinho, menino genuíno e humilde no tamanho, sonhava com os seus antepassados que, originários da cidade portuguesa de Braga, cedo partiram para vários pontos do mundo. No Havai, em Cabo Verde, Indonésia
e Brasil. A realidade é que o jovem Cavaquinho se enamorou deixou Portugal rumo ao Ceará, cedo se apaixonando por uma Viola Sertaneja, donzela adornada com motivos sublimes e possuidora de uma boca arredondada a suplicar beijos enamorados.
A princípio, Cavaquinho mostrou alguns complexos de pequenez, uma vez que tinha braço curto e delgado
em relação à sua pretendida amada. Também o facto
de ter uma boca pequenina, levava-o a pensar que
seria engolido pelos lábios famintos daquela Sertaneja ornamentada, dizia-se, com antepassados árabes. Da boca lhe saiam palavras agudas e enamoradas, imperfeição natural de quem só possui quatro cordas vocais, mas que apesar disso, poderiam dedilhar com afinação as cinco cordas vocais, ainda por cima aos pares, o que lhe dava um primor no canto repentista.
Cedo deram o nó, tendo o Padre Cícero como orador eloquente, numa cerimónia que decorreu numa retirada entre Crato e Juazeiro. Como convidados, a Guitarra Portuguesa, chegada expressamente de barco de Lisboa, a Cuíca, o Pandeiro que foi padrinho do Cavaquinho com a Rabeca e um toda a família de cordofones vindos de todas as partes do mundo.
Muitos anos passados, os tetranetos do Cavaquinho e da Viola Sertaneja, continuam a encontrar-se para celebrar memórias. Gil Vicente, o grande dramaturgo português nascido no século XV encontra-se também regularmente em Fortaleza com Augusto Boal e, juntos, comentam a paixão de um grupo de teatro de Tondela por a cultura
nordestina. Patativa do Assaré e António Aleixo passeiam em Nova Olinda, adquirindo sandálias do Mestre Expedito Celeiro, seu predileto cuidador de caminhadas poéticas. Carlos Henrique, o xilogravurista do Crato,
foi emocionalmente a Portugal transportado pela visão comum de Paula Geórgia e, em Molelos, freguesia do concelho de Tondela, fez amizade com um ceramista de barro negro que o inspirou a fazer uma pomba que uniu a Beira-Alta e a ACERT ao Ceará e, como a de Picasso, transportou um cravo com cheirinho a alecrim.
Pensando que não existe qualquer semelhança com a realidade, esta estória não é fábula nem ficção. Atesta uma realidade que perdura por flutuar num tanto mar infinito de afinidades, de memórias e de busca permanente de olhares poéticos sobre a rudeza déspota com que estão
a TENTAR destruir a humanidade. Felizmente que, para nossa firme vontade transformadora, estão só a TENTAR. Uma pequenina e humilde contribuição é este CRAVOS D’ABRIL NO CEARÁ.
Saravá!
José Rui Martins
Equipa Artística da ACERT