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Faca Tú
"Faca Tú” é uma reposição criada por ocasião da abertura do Auditório1 do Novo Ciclo ACERT.
Tratou-se de um trabalho de recriação sobre uma dramaturgia que constituía uma referência importante em ter- mos de jogo dramático, com base em textos de humor negro.
Um rissol esconde muita gente
OFÉLIA - Querido, quantas saudades, há tanto tempo fora da sua Ofélia. (Otelo olha desconfiadamente para todos os cantos da casa.) Olha, olha, como preparei a tua chegada. O nosso jantar está apetitoso.
OTELO - Rissóis?
OFÉLIA - Bem sei quanto gostas deste prato e das saudades que deves ter da comidinha de casa. Não há casinha como a nossa, não é Otelinho querido?
OTELO – (Sentando-se desconfiado. Tira rissol e trinca-o. Encontra nele um cabelo. Grita, irado.) Um cabelo de homem no rissol de camarão?!...
OFÉLIA - Tu bem sabes, que não entram homens cá em casa.
OTELO - Nem camarões. E no entanto eu estou a comer um rissol de camarão.
(Pega no rissol e examina com a lupa.) Cabelo grosseiro. (Afasta-o com nojo. Ofélia vai desculpando-se, dizendo-lhe que deve ser um dos seus cabelos..) Curto, luzidio. (Observa-o de novo.) Oleoso, preto, banalíssimo. Cabelo de plebeu. Cabelo de homem. (Ofélia impávida, vai comendo ao retardador.) Um cabelo dentro de um rissol. Eis ao que chegou o mundo dos contestatários, dos pecaminosos. Mundo cão, mundo burro, mundo boi universo de cornos! (Dá um murro na mesa.)
OFÉLIA – (Preparando-se para sair para a cozinha., cantando.) Se não gostas dos rissóis, far-te-ei uma omeleta.
OTELO - Tudo o que possas fazer terá por força um homem lá dentro.
OFÉLIA – (De uma forma melada.) Uma folha de uma árvore não é uma floresta. Uma gota de água não é um oceano. (Aflora aos lábios o copo de vinho.) Um cabelo de homem não é um homem. (Limpa os cantos dos lábios ao guardanapo e sorri com todo o seu poder de persuasão feminina, para finalizar:) Abre todos os rissóis se quiseres. Não encontrarás ninguém.
OTELO – (Furioso, retira outro rissol da travessa.) Um rissol, esconde muita gente! (Leva-o à boca e prega-lhe uma dentada tremenda. Um grito de dor, um grito metálico, parte do homem que tinha a cabeça no quadro.)
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Ficha técnica e artística
apresentação única 19 de Dezembro de 1999
Auditório 1, Novo Ciclo, Tondela
Adaptação e encenação José Rui Martins
Assistência de encenação Carla Torres
Cenografia José Tavares, João Paulo Leão
Construção cenográfica Luís Viegas, Pompeu José
Desenho de luz Luís Viegas
Técnica Luís Viegas, Paulo Neto
Figurinos José Rosa
Costureira Felicidade Café
Serralharia Eduardo Balão
Carpintaria Sílvio Neves
Música Carlos Clara Gomes, Carlos Peninha
Promoção e secretariado Marta Costa
Fotografia Carlos Teles
Direcção gráfica José Tavares
Elenco Carla Torres, Cláudia Andrade, Ilda Teixeira, José Rosa, José Rui Martins, Maria Simões, Paulo de Cira, Pompeu José, Ruy Malheiro